quinta-feira, 11 de abril de 2013

IRENE DA CONCEIÇÃO RODRIGUES.

 


No 100º “Aniversário” do seu nascimento…

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29.maio.1911 – 2.novembro.2011
 

Foto (editada) do 99º ANIVERSÁRIO. Esperávamos e imaginamos hoje a 3ª vela…

 

NOTA PRÉVIA. Quando minha querida Mãe “partiu” propus-me, a mim próprio e a alguns familiares e amigos, escrever um livrinho, ilustrado com fotos, sobre ela, a sua vida, o seu percurso, a sua grandeza…. Queria fazê-lo até ao dia do 100º ano sobre o seu nascimento. Mas não consegui por diversos motivos, sobretudo por que me fui atrasando…penitencio-me, embora já tivesse escrito bastante. Mas tentarei concluí-lo mais tarde com todo o empenho!

Assim, por hoje, dia 29 de Maio de 2011, isto é, no dia que perfaria 100 anos se tivesse lá chegado fisicamente, data pela qual tanto ansiámos nos últimos anos e tínhamos esperança que os atingisse como expressávamos em cada um dos derradeiros aniversários da sua vida terrena – … 96º, 97º, 98º, 99º … - fica este apontamento como uma lembrança breve e singela do que foi na sua longa vida…

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NASCEU no Lubango em 29 de Maio de 1911. Filha de Alfredo Carlos da Conceição, militar que atingiu o posto de 1º sargento, e de Teresa de Jesus (Freitas) da Conceição natural de Machico (Madeira). De 7 filhos do casal, Irene era a 5 na ordem cronológica dos nascimentos. Porém, quis Deus que fosse a última a falecer e a que teve uma vida mais prolongada entre esses 7 irmãos.

Irene da Conceição FICOU ÓRFÃ cedo, por volta dos 8 anos de idade. Seu pai casou-se algum tempo depois pela 2ª vez com Gertrudes de Freitas, que era tia de Irene, de quem teve mais outros 7 filhos.

CONHECEU PORTUGAL em 1920 com cerca de 9 anos idade integrada numa viagem, à então Metrópole, da família: pai, madrasta e irmãos. Estiveram sobretudo por Lisboa e Vila Nova de Oliveirinha, concelho de Tábua (Coimbra) – terra natal do seu pai.

FREQUENTOU a ESCOLA 60 no Lubango onde fez a 4ª classe. Em casa do pai, madrasta e irmãos foi um elemento importante ao longo de muitos anos em toda a lide da casa, ajudando a criar os irmãos mais novos, até se casar.

NUMA ESTADIA EM CALUQUEMBE em casa de primos, provavelmente em 1941, conheceu JOSÉ MARIA RODRIGUES então viúvo há cerca de quatro anos, enamoraram-se, e vieram a casar-se - por procuração conforme decidido pelo noivo - em 17 DE DEZEMBRO DE 1941, no Lubango, após curto namoro. Irene tinha 30 e José 36 anos. Este tinha 4 filhos do 1º matrimónio e mais 3 fora do casamento mas que não viviam consigo. Aqueles eram a LUCÍLIA, 9 anos, CAMILO, 7, EDMUNDO, 6, e JOSÉ AMADOR (Zeca ou Zequinha), 5 anos.

IRENE assumiu assim a partir de então a coeducação dos seus enteados que lhe passaram a chamar de “tia”, hábito que lhes transmitiu (por analogia com o tratamento que ela própria dera e dava à sua madrasta e tia Gertrudes). Adotou o nome de família do marido passando a chamar-se IRENE DA CONCEIÇÃO RODRIGUES. Em Caluquembe Inicialmente ainda habitaram em casa arrendada onde José já morava mas entretanto concluía-se a construção da casa própria onde o casal passou a habitar em 1942. Foi feito um almoço convívio de inauguração desta casa com familiares e amigos.

Em 1942 nasceu o 1º filho do casal: HIGINO JOSÉ (que cedo começou a ser chamado de Gino como ainda hoje acontece). E em 1944 nasceu o 2º filho, JÚLIO HENRIQUE, o mais novo de todos os irmãos habitualmente chamado de Júlio apenas (quem escreve estas linhas). Ainda engravidou mais uma vez mas abortou espontaneamente (ouvia-a dizer que era uma menina).

Criou pois, juntamente com o marido, 4 enteados – a estes completou a educação já que eram crianças quando casou - 2 filhos, 2 afilhadas (Maria e Joana) e 1 neta (Graça).

Mulher dinâmica, trabalhadora auto-exigente, cautelosa, apaziguadora, interessada, exímia na vida doméstica quanto a limpezas, arrumações, tratamentos de roupa, cozinha, confecção de bolos e doces, bem receber e bem servir, conservação da casa, móveis, etc; fez muito costura, croché, bordados; a residência tinha apresentação irrepreensível; todos esses foram seus reais atributos. A CASA ERA O SEU MUNDO… Sem esquecer a co-gestão da horta, galináceos e outros, etc. Recebeu, nomeadamente em Caluquembe, como dona de casa anfitriã, inumeráveis visitantes familiares e amigos, conhecidos ou mesmo pouco conhecidos, ou até desconhecidos, simples ou frequentes passantes, autoridades, missionários, caixeiros-viajantes, etc. Era uma casa hospitaleira situada no mato… (como era Caluquembe no princípio, anos 40 e 50, depois já não tanto) onde se ofereciam desde refeições esperadas ou inesperadas até estadias maiores ou menores, habituais ou ocasionais, ao longo dos anos em que o casal Irene e José residiram em Caluquembe, ou seja, até 1970. Quase três décadas. Enfim, pode dizer-se que era uma mulher prendada ou FADA DO LAR usando o terminologia duma época já distante… Adorava arranjar-se com esmero e vestir-se com notável elegância que lhe conferiam boa apresentação pessoal. Era dotada de uma caligrafia linda e lia muito enquanto mais nova. Tinha também naturalmente os seus defeitos como todos os mortais.

VIAJOU em Angola quando era necessário, acompanhando o marido José, sobretudo ao Lubango e a Benguela – Lobito mas também a outras localidades. E em 1963 vieram a PORTUGAL em férias prolongadas de um ano com base em Lisboa mas correndo o país; e vários países europeus em excursão. Repetiram em 1970 mas por menos tempo. Antes desta ainda fizeram uma viagem ao Sudoeste Africano (hoje Namíbia), África do Sul e Lourenço Marques (hoje Maputo).

Regressados da segunda viagem a Portugal, 1970, foram viver para o LUBANGO, sua terra natal; a localidade onde nasceu José, a povoação da Huíla, situa-se próximo. Uma das casas que lhes pertencia, situada emblematicamente no Bairro da Laje, anteriormente arrendada (mal arrendada, por sinal), foi profundamente reparada e passou a ser a nova residência do casal, neta Graça e afilhada Joana. Ali viveram apenas 4 anos. José faleceu em 26 de Setembro de 1975 e tão logo houve a saída forçada de Angola, pelas circunstâncias da “descolonização”, de toda a família próxima, então destroçadamente enlutada, em Outubro de 1975, poucas semanas antes da independência.

Veio PARA PORTUGAL acompanhando seus dois filhos, Gino e Júlio, noras Aldina e Helga, netos Graça, Bruno e Henrique e afilhada Joana (a neta Soraya já viera antes). Em Portugal residiu sempre com o filho Júlio durante mais de 3 décadas – inicialmente, até 1978, na Costa de Caparica e depois nas Covas da Raposa, Sesimbra, desde então até 2010 quando faleceu aos 99 anos e 5 meses - dando apoio e fazendo companhia ao filho com total disponibilidade até onde a compleição física e espiritual o permitiam. Sempre gostou muito de passear e viajar de carro e de visitar familiares. Tinha um carinho inexcedível pela larga família. Educada, afável, cortês, delicada, tímida e inibida por vezes, mas impulsiva quando necessário, generosa, de sorriso cativante, simpática, de vocabulário e palavras irrepreensíveis, poupada, católica devota fazia as suas orações rezando muitos terços por diversas intenções.

As suas características domésticas e de tenacidade pessoal só tardia e resistentemente foram sendo afetadas pelo avanço dos anos; assim, manteve o interesse e preocupação pela vida doméstica e familiar o qual jamais se desvaneceu na sua mente e que foi desempenhando por seu querer tanto quanto o permitia a própria capacidade individual e crescente fragilidade física motivada pela pronunciada cifose que a tornaram mais baixinha a partir da já de si pequena estatura (indiretamente proporcional à sua grandeza) aliada ainda à doença de Parkinson que a afetou desde certa idade. Cozinhou até aos oitenta e muitos anos para não dizer até aos noventa e depois foi diminuindo naturalmente essa e outras atividades mas os pequenos arrumos e limpezas, como se referiu acima, foi fazendo tanto quanto as forças o iam permitindo, por sua inteira iniciativa e desejo, mas quase até ao fim dos seus dias…enquanto não adoeceu.

Porém primou pela apresentação e postura física possíveis até proveta idade. Praticamente quis ir ao cabeleireiro até alguns meses antes de adoecer para dar um exemplo do seu desejo em bem se apresentar.

Conservou sempre quase todas as utilidades domésticas mesmo que já inúteis: bibelôs, livros, roupas de casa e pessoais, naperãos, bordados diversos, adereços, joias, objetos de ornamentação, curiosidades, livros, lembranças, etc. que pertenceram ao casal ou a si. Nunca deixou de ler algo e pouco precisava de óculos mesmo nos seus últimos tempos. Ficava sozinha em casa por rotina, devido aos afazeres profissionais ou outros do filho, até há cerca de ano e meio; temia pela segurança mas superava notavelmente as horas que tinha de ficar sem companhia!

Teve sonhos nunca concretizados: gostaria de ter tido a sua própria casa (em Portugal) e outros desejos. Jogou no totoloto até ao fim dos seus dias, sem sorte…

Desgraçadamente teve uma queda, o princípio do fim… no final de Setembro de 2010, numa estadia no apartamento do Júlio em Olhão, fraturando o pulso direito. Sucedeu-se um pesadelo de idas a hospitais, regresso a Sesimbra, acamando-se quase de seguida, visitas médicas domiciliárias, novas idas a hospitais, assistência permanente de empregadas, cuidados, fraqueza galopante, perda da capacidade de falar perceptivelmente, dificuldade respiratória (provável pneumonia), etc. Sucumbiu, após um mês de sofrimento, a 2 DE NOVEMBRO DE 2010, curiosamente Dia de Finados, acompanhada pelos seus dois filhos, por uma amiga de juventude (Cristina de Matos) e pelas empregadas cuidadoras (Madalena e Mariana). Ficou sepultada no cemitério da Aiana, em Sesimbra.

Alguns anos (?) antes escreveu pelo seu punho a distribuição dos seus pertences principais, reservadamente pois só o vimos após a sua “partida”. Destacam-se do texto estas frases: “não quero que haja zangas…o que vos deixo não é nada de importância…é a mãe que vos pede de lá para onde se vai e não se volta”…

Teve 2 filhos, e, em vida, 7 netos, 9 bisnetos e 2 trinetos sem esquecer os 4 enteados e seus descendentes que considerava do mesmo modo bem como as afilhadas Maria e Joana.

EVOQUEMOS E CELEBREMOS hoje toda a sua longa vida, repleta de episódios de alegria, força, energia, determinação moral, desejo de viver, dignidade, carácter, generosidade, disponibilidade, enfim a sua grande alma que a tornaram um exemplo duma Grande Senhora como alguém a chamou. Ou, como reza o seu epitáfio na campa: “ QUASE 100 ANOS… À GRANDE MULHER E MÃE, AVÓ, BISAVÓ, TRISAVÓ E MADRINHA, ETERNO AMOR DOS FILHOS, ENTEADOS, DESCENDENTES, FAMILIARES, AFILHADOS E AMIGOS ”.

 

Júlio Rodrigues

1 comentário:

  1. Está muito bonito!
    De facto a Madrinha tem um filho como poucos, que não esquece a mulher mais importante que um homem pode ter - a Mãe.
    Também guardo boas recordações dela, nomedamente os mata-bichos de Sesimbra antes de irmos para a praia. Para ela eu era o Jorgito e sempre assim foi.
    Um beijo para todos de saudade,
    Jorge Kalukembe

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