Até havia um papel
identificador q se molhou depressa…
Nas
semanas anteriores e nos dias já próximos à data aprazada para o
nosso tradicional PIQUENIQUE DE FAMÍLIAS AMIGAS DE CALUQUEMBE, 6 de
julho (1º domingo deste mês), os mais entusiastas viviam já
antecipadamente a agradável emoção do evento a realizar-se nas
sombras deliciosas dos pinheiros mansos, que já chamamos “nossos”
por algumas horas, no sítio do Cabeço da Flauta próximo à Lagoa
de Albufeira, Sesimbra, acontecimento simples que reúne em cada
verão, desde há vinte e quatro anos, convivas relacionados com
Caluquembe.
Na
véspera muitos de nós fizemos os preparativos, compras, escolha do
material a levar como cadeiras, mesas, pratos e talheres,
comes-e-bebes, etc. Houve mesmo quem arrumasse tais utensílios no
carro de véspera para na manhã seguinte ser mais fácil e rápido
demandar para o evento. Uma trabalheira que a perspetiva de uma
jornada habitualmente tão bem passada, como costumam ser esses
piqueniques, fazia amenizar um tal esforço preparatório e
organizativo.
Falando
de mim, Júlio: na véspera comprei praticamente os últimos
comestíveis que seriam o meu contributo para a mesa coletiva campal
e ao entardecer desse sábado carreguei antecipadamente a carrinha
com a mesa de campismo, várias cadeiras de praia, depósito de água
que adquiri há uns anos quase exclusivamente para o piquenique,
caixas geleiras, alguns utensílios sempre necessários num
piquenique, etc.
Deitei-me
cedo e ansioso ante a perspetiva mental mansa e agradável dum sempre
apetecível convívio ao ar livre de cunho marcadamente familiar.
Porém, misturado com esse sentimento, rondava algum receio do tempo
que já ameaçava irregular com alguma humidade; mas, no domingo,
quis acreditar, não haveria de ser nada…
Porém,
chegados propriamente ao dito cujo dia 6 de julho de 2014,
levantei-me cedo e constatei que o dia amanhecera húmido pois ao
abrir a janela fiquei mesmo apreensivo perante alguma nebulosidade
real. Só mesmo muito boa vontade poderia continuar benevolente para
uma meteorologia que assim se prenunciava com evidência pouco
propícia ao desejado piquenique…
Não
valorizando, enganando-me a mim próprio, fui encher as geleiras com
bebidas, alguns frescos armazenados no frigorífico da casa e gelo já
comprado na véspera mas preservado no congelador. Matabichei e
abalei de casa convicto, ainda não eram nove horas. Na pastelaria
próxima comprei um grande pão fresco caseiro fatiado e na papelaria
de Alfarim um jornal diário para os convivas lerem as últimas.
Nessa
mini viagem chegaram-me entretanto as primeiras mensagens e contactos
telefónicos: “…que tal o tempo por aí?...aqui está muito
nublado ou até já chove…”, etc. Constrangido ia animando ou
ia-me animando que em Alfarim não chovia, embora estivesse tempo
cinzentão, mas quando chegasse propriamente ao local do piquenique
logo podia atualizar as condições climáticas…e informar.
E
fui o primeiro a chegar aos belos pinheiros mansos cujo local exato
já vamos repetindo cada ano. Bem intencionado e ainda crendo que o
tempo levantaria para permitir o encontro, fui recolhendo e ensacando
lixo – pois a falta de civismo deixa sempre rastos – com uma
tenaz que levara, respondendo a um ou outro telefonema para
complementar a informação do tempo no local, o qual contudo
permanecia muito nublado. Entretanto chegou o segundo carro, era o
Couto e a Rosalina. De seguida um pouco depois a Manuela, filha Selma
e neto Daniel chegaram também. Olhámo-nos todos comprometidos…quase
cúmplices duma situação que contudo nos era alheia. A humidade
acentuava-se, começaram chuviscos de vez em quando pelo que éramos
obrigados a recolhermo-nos nos carros, intervalando com saídas dos
automóveis quando parava de chuviscar. Dos carros nada tirávamos:
nem mesas, nem cadeiras, nem comidas, nem bebidas, não valia a pena
pois molhar-se-ia tudo… Ainda petiscámos uns bolitos numa das
abertas, os minutos foram passando, horas mesmo, mas perante as
cinzentas circunstâncias os convivas, que ainda estavam por suas
casas ou por casas de familiares para seguirem agrupados para o local
do piquenique, começaram a desistir, e bem, ficando pelas mesmas.
Foi o caso do Bruno, Soraya, Fausto e Nídia que se juntaram na Serra
das Minas em casa da Soraya; o Lelo, Ester, Mário, Aldora que
ficaram por casa do Jorge, Lucília e Paula; o Henrique, Micaela,
Júlio, André e Alexandre também não se atreveram a sair do seu
lar na Amora e por lá se conservaram; o Gino, Fernandes e Torres
ante as circunstâncias impraticáveis preferiram almoçar em
restaurante. E nós, os ainda resistentes nos pinheiros do Cabeço da
Flauta, tivemos de tomar uma opção já que o tempo não mostrava
modos de melhorar... Ofereci então a minha casa em alternativa,
todos concordaram, e assim para cá viemos, Manuela, Selma, Daniel,
Couto, Rosalina e eu, éramos seis.
Quando
acabrunhados abalámos do local, não sem antes tirarmos umas fotos
como recordação cinzenta, chovia mesmo copiosamente, era um
aguaceiro embora sem vento…O relógio marcava meio dia…
Tal
qual os outros, como estávamos preparados para um piquenique, fomos
comer e beber para casa. A Rosalina, no meu quintal numa aberta da
chuva miudinha, ainda assou sardinhas que tão bem nos souberam.
E
o “piquenique” foi pois e assim forçadamente dividido por várias
casas: Amora, Covas da Raposa, Miratejo e Serra das Minas…
Passada
a tempestade mansa veio a bonança soalheira, incrivelmente, visto
que ainda não seriam duas horas da tarde já o sol raiava lindo na
zona… Que frustração! Mas, desiludidos e um tanto cansados de
tantas andanças, não fazia sentido um regresso ao local aprazado
para o verdadeiro piquenique tão esperado, tão desejado… Todavia,
comemos, conversámos, conversámos, e de vez em quando dizíamos
recorrentemente: “…que pontaria…que galo…que azar… o que
nos aconteceu. Paciência”, confortávamo-nos.
Na
tarde já, uma família retardatária, não sabendo do ocorrido pela
manhã, o Amândio e a Lurdes Batista da Quinta do Conde ainda lá
foram ao Cabeço da Flauta, como o tempo já estivesse bom, e
ligaram-me a perguntar por onde estávamos…pois não nos
encontravam! Lá respondi que em casa…, em casa…, explicando tudo
o acontecido de chuva horas antes… O Fernandes ligou-me também à
tarde a saber se ainda nos encontraríamos pelo local do piquenique,
supondo que teríamos resistido tanto, pois havia a oportunidade de
poderem aparecer, ele, o Gino e o Torres para se juntarem connosco,
mas também lá o esclareci da forçada fuga horas antes…
E
assim foi o que aconteceu, caros leitores e amigos de Caluquembe, ao
24º Piquenique de Famílias Amigas de Caluquembe o qual fica deste
modo relatado e na nossa memória como um evento diferente, mas que
não deixará de contar para a nossa ordenação pois acabou mesmo
por ser um encontro embora dividido, esparso e debaixo de teto na sua
maioria. E até porque houve mesmo quem esteve no local aprazado, o
nosso caso, só que o piquenique, digamos, teve de ser levantado,
como explicado atrás, mas podemos considerar que acabou por se
iniciar no local por escasso tempo contudo e molhadamente...
Piquenique à chuva…
Assim: este 24º foi isso mesmo que acabastes de ler e ficará esta
crónica para a nossa história e nas nossas mentes permanecerá a
lembrança do quanto foi atribulado.
E
para o ano será o 25º.
Até
lá. De todos para todos…
Ainda
a resistirem mas prestes a “fugirem ”da chuvinha..(o fotógrafo
foi o Daniel)
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