quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Há mais Angola além do petróleo

 

Angola considera que a agricultura é prioritária e está a preparar alternativas aos diamantes e ao petróleo. Café e algodão estão na lista dos produtos prioritários.



Exame - Expresso

"Podemos esquecer o petróleo e os diamantes, precisamos diversificar os investimentos, e isso passa obviamente pela agricultura". Quem o diz é Mateus Sá Miranda, cônsul-geral de Angola em Faro, à margem de um seminário dedicado ao tema, promovido pelo Consulado e pela Câmara Municipal de Portimão.
"A estratégia do Governo angolano está centrada na diversificação da economia e a agricultura é uma das áreas em que vamos apostar. Temos um solo muito fértil que tem de ser aproveitado e que não o foi em função da guerra", acrescenta ao Expresso Estevão Alberto, conselheiro de imprensa da Embaixada de Angola em Portugal.
Segundo os especialistas, a questão que se coloca - e que tem sido 'abafada' pelo tema da crise financeira global - é a da da escassez mundial na produção de alimentos, algo a que Angola parece estar agora atenta: "Eu penso que há muito espaço para crescer e apelo aqui aos investidores do Algarve para que olhem para Angola e pensem no seu know-how ao nível da produção agrícola, para apostarem lá em especial em produtos como o café e o algodão", adianta Jorge Kalukembe, geógrafo e CEO da Kumbu, empresa consultora de negócios sedeada em Portimão.
Como exemplo, Kalukembe aponta a valorização do café que rondou os 1400% em apenas 10 anos, quando a cota mundial de produção de Angola é de apenas 0,003%. Não será coincidência o fato de o Governo angolano estar a disponibilizar linhas de crédito que rondam os 280 milhões de dólares para fomentar a plantação de café e de algodão, numa área agrícola que ultrapassa um total de 150 mil hectares.
Desminagem 'ressuscita' agricultura
Com o processo de desminagem numa fase adiantada, é tempo de angolanos e portugueses darem as mãos e trocarem experiências e investimentos, em várias escalas. "Aqueles que não conhecem Angola vão encontrar uma nação em mudança", garante Jorge Kalulembe, autor de vários livros sobre os recursos naturais e a economia de Angola, que assim abre as portas ao intercâmbio financeiro e cultural entre duas nações cada vez mais próximas.
Recorde-se que o número estimado de angolanos em Portugal ronda os 100 mil, enquanto o de portugueses em Angola já excede os 170 mil. Um fluxo que ajudará a economia angolana a crescer, assente sobretudo na procura de quadros qualificados tendo em vista áreas de elevado potencial, como a agricultura e o turismo.
Que o diga Marta Cortegano, engenheira florestal da Associação Defesa Património de Mértola, que pegou em case studies alentejanos para mostrar o espaço de crescimento de Angola, nos recursos florestais. "No caso de Angola estamos a falar de uma biodiversidade extraordinária. Há pequenos produtos de que não nos lembramos numa lógica de investimento, tais como o mel biológico, os frutos silvestres ou as plantas medicinais e importa valorizá-los, integrá-los num processo de desenvolvimento económico", vaticina.
A seguir, virá a expansão turística: "É preciso uma mercadologia do território, que tem a ver descobrir no território elementos de diferenciação e potenciá-los como marcas vendáveis", conclui Raúl Marques, geógrafo, apelando à criação de marcas regionais que potenciem o território angolano.
 

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